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Como a inteligência artificial deve moldar o futuro da internet e do trabalho

Ferramentas de IA generativa prometem revolucionar a produção de conteúdo, e gigantes da tecnologia correm para garantir suas fatias de mercado

Desde que foi lançado, no fim de novembro, o Chat GPT vem dando o que falar. O algoritmo do chatbot é baseado na chamada “IA generativa”, um tipo de Inteligência Artificial capaz de gerar textos, imagens, músicas e vídeos.

A capacidade do Chat GPT de criar conteúdos relativamente complexos a partir de comandos simples chamou a atenção do mundo e levantou a questão: seria o lançamento do chatbot um ponto de inflexão no que diz respeito à pesquisa e à produção de conteúdos criativos?

Se, de um lado, os mais comedidos tendem a encarar o surgimento da tecnologia como algo natural, de outro, os apocalípticos lançam suas profecias: a IA generativa chegou para reformular a força de trabalho, tomar empregos humanos e até mesmo derrubar indústrias inteiras. Será?

Contionue a leitura do artigo para entender como essa novidade deve moldar o futuro da internet e do trabalho!

A evolução da Inteligência Artificial

Apesar do frenesi em torno do tema nas últimas semanas, a Inteligência Artificial não pode ser considerada um recurso exatamente novo.

O desejo de construir máquinas capazes de reproduzir a capacidade humana de pensar e agir começou a ganhar forma ainda na década de 1950, quando os cientistas americanos Herbert Simon e Allen Newell criaram o primeiro laboratório de Inteligência Artificial do mundo, na Universidade de Carnegie Mellon, na Pensilvânia.

Ao longo das últimas décadas, o avanço da tecnologia computacional permitiu que a IA fosse ganhando força e robustez, sendo implementada em diversos aspectos do nosso cotidiano até chegar ao movimento que presenciamos hoje.

Basicamente, o que chamamos de Inteligência Artificial nada mais é do que um computador capaz de simular a inteligência de um humano, fazendo com que uma máquina consiga gerar resultados que aparentemente apenas uma pessoa conseguiria atingir.

O gerente de produtos do O Novo Mercado, Leonardo Naylor, conta que gosta de olhar para a história para entender como a tecnologia vem evoluindo.

“Há algum tempo, diziam que uma máquina jamais poderia ganhar de um ser humano em uma partida de xadrez, e hoje em dia as máquinas são insuperáveis; ou que uma máquina não poderia realizar uma pintura, e atualmente isso já é uma realidade”, exemplifica.
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Hoje, depois de décadas de avanço, a Inteligência Artificial se mostra muito bem desenvolvida e capaz de entregar resultados impressionantes, se tornando mais interativa e acessível a cada dia.

“Isso acaba impactando no trabalho de pessoas que, a princípio, não poderiam usar essa tecnologia porque não são programadoras ou porque não tem um conhecimento muito avançado na área. É um movimento que está gerando grandes possibilidades para todos”, avalia Naylor.

Blainer Costa, designer de produto do O Novo Mercado, concorda, e diz que a criação de ferramentas como o Chat-GPT está trazendo mais clareza para as pessoas sobre o que é Inteligência Artificial e como ela pode gerar valor para os negócios.

“Pensando na área de conteúdo, algumas ferramentas vêm chamando a atenção por serem capazes de gerar não apenas textos, mas também imagens. A nova versão do Chat GPT, por exemplo, é ainda mais eficiente, por conter mais dados, mais insumos. Por ser algo escalável e implementável, cada vez mais pessoas conseguem puxar valor de dentro da ferramenta”, explica.
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Existe uma frase bastante difundida no meio tecnológico que diz que “dados são o novo petróleo”, porque são justamente eles, os dados, que permitem o desenvolvimento cada vez mais veloz das tecnologias que nos cercam, incluindo a Inteligência Artificial.

“A IA se aproveita dessas informações a partir de uma tecnologia conhecida como machine learning – ou aprendizado de máquina – em que eu entrego dados e ela me retorna com inteligência”, detalha Costa.

A grande revolução neste momento é que, se antes o uso da Inteligência Artificial era restrito a grandes players – que usavam nossos dados para fornecer serviços e descontos personalizados, por exemplo -, hoje essas ferramentas estão se tornando cada vez mais disponíveis para todos nós, enquanto indivíduos. 

Além disso, a IA também está entrando em uma nova fase: a generativa, que ilustra justamente essa capacidade não apenas de coletar e interpretar dados, mas de produzir conteúdo a partir deles.

Inteligência Artificial e mecanismos de busca

Se você tem mais de 30 anos certamente se lembra do “Cadê?”, o primeiro mecanismo de pesquisa online lançado no Brasil, em 1995. Foi nessa época que essas ferramentas começaram a se tornar populares, mas desde então sua abordagem principal não sofreu alterações, ordenando sites indexados da maneira mais relevante para o usuário.

No início, era preciso inserir uma palavra-chave (ou uma combinação delas) para ter acesso aos resultados. Com o tempo, os buscadores passaram a ser capazes de fazer a chamada “pesquisa semântica”, baseada em frases mais naturais.

Pouco tempo depois de ser lançado, o Google passou a ser o mecanismo de busca mais usado no mundo, graças à sua interface simples e ao PageRank, algoritmo que revolucionou o mercado com sua capacidade de medir a importância de uma página para posicioná-la entre os resultados de uma pesquisa.

Ao que tudo indica, no entanto, a chegada da IA generativa deve mudar esse cenário. Em vez de uma lista de sites relevantes, cada vez mais usuários buscam insights e conhecimentos mais profundos quando realizam uma pesquisa, e é exatamente isso que essa nova tecnologia faz: fornece respostas, e não apenas sites.

Lançado no último dia 14 de março, o ChatGPT-4 chegou com a promessa de ter um desempenho semelhante ao humano “em várias tarefas profissionais e acadêmicas” e com 40% mais chances de dar uma resposta correta do que a versão anterior. A última atualização do chatbot foi desenvolvida a partir de meses de treinamento com as versões anteriores e também com concorrentes, como o Bard, do Google. O resultado é uma capacidade de dar respostas mais assertivas e de produzir textos mais criativos.  

A Microsoft já havia começado a utilizar recursos da versão anterior do ChatGPT no seu mecanismo de busca, o Bing, e a parceria segue valendo com a atualização do chatbot. A ideia é que as ferramentas de Inteligência Artificial ajudem a entregar respostas mais completas aos usuários, sem precisar direcioná-los para outras páginas. 

A incorporação de recursos do ChatGPT provocou uma disparada no número de usuários do Bing. O buscador da Microsoft atingiu 100 milhões de usuários ativos por dia pela primeira vez. Segundo a empresa, ⅓ dessas pessoas são novas no Bing. Apesar de ainda estar muito longe do Google, que segundo o The Verge possui cerca de um bilhão de usuários diários, o feito não deixa de ser um marco. Segundo a Microsoft, parte desse crescimento está ligado ao anúncio do Bing Chat e à curiosidade de testar a ferramenta.

Agora, o Google corre atrás para incorporar o quanto antes o Bard, sua própria IA, ao seu buscador, indicando uma corrida rumo ao que promete ser o futuro da internet.

Hoje em dia, o ChatGPT tem uma limitação, com dados atualizados somente até 2021. Com isso, quem precisa buscar informações que sejam atualizadas em tempo real acaba utilizando os mecanismos de busca que não usam Inteligência Artificial de maneira explícita. 

Para Naylor, a integração completa das ferramentas de IA aos mecanismos de busca é uma questão de tempo.

“Quando você pesquisa algo no Google, por exemplo, precisa tomar mais um passo, que é selecionar um site entre os que aparecem no resultado, mas às vezes você quer só uma resposta pronta, ainda que ela não seja tão precisa. Se em algum momento for viável o ChatGPT dar resultados em tempo real, acredito que será mais um motivo para as pessoas passarem a usá-lo definitivamente”, diz.

Os desafios e o futuro da IA

Ainda que as empresas consigam superar o desafio técnico e financeiro de manter os robôs constantemente atualizados, uma outra preocupação permanece: a confiabilidade das fontes em que o algoritmo busca informações. Por mais que os modelos de linguagem sejam treinados com conjuntos de dados cuidadosamente selecionados, a curadoria dos desenvolvedores não garante que eles sejam 100% corretos e livres de vieses.

Alguns estudos, inclusive, apontam que a Inteligência Artificial pode agravar preconceitos, uma vez que grandes conjuntos de dados baseados em textos da Internet tendem a representar pontos de vista hegemônicos e reforçam preconceitos potencialmente prejudiciais às populações marginalizadas. 

“A IA funciona como um reflexo do ser humano, então se a pessoa por trás dela tiver um perfil racista, xenófobo ou qualquer característica segregacionista, corre-se realmente um grande risco de o algoritmo ser alimentado com essas informações”, alerta Costa.

O especialista acredita, no entanto, que as próprias empresas desenvolvedoras têm interesse em corrigir esses problemas, a partir da criação de ferramentas de moderação.

“São empresas listadas em bolsa, que precisam estar bem no mercado para receber investimentos, então elas mesmas não querem que as ferramentas de IA passem a se utilizar de qualquer tipo de discurso de ódio”, analisa

Os mecanismos de pesquisa tradicionais também podem, obviamente, apresentar resultados que levem a sites com conteúdo tendencioso, falso ou preconceituoso. A grande diferença é que a escolha de quais informações serão levadas em conta ou não fica a cargo do usuário, que supostamente tem discernimento suficiente para distinguir fatos de ficção e informações objetivas de opiniões. Com o ChatGPT essa etapa de julgamento é eliminada, tornando a ferramenta diretamente responsável pelos resultados que entrega.

A OpenAI vem se esforçando para reduzir esse tipo de problema e melhorar a segurança no ChatGPT. A versão mais recente do robô conta com mecanismos de moderação mais avançados, a fim de tentar tornar o seu uso mais confiável e seguro.

De olho nessa tendência, a Anthropic, empresa de IA apoiada pela Alphabet (dona do Google), lançou recentemente o Claude, um modelo de linguagem para concorrer com o ChatGPT, porém menos propenso a gerar conteúdos nocivos. Treinado com textos alinhados a normas mais rígidas, o Claude, além de evitar responder tópicos considerados perigosos, tenta explicar ao usuário por que não responde a determinados comandos.

Com tantas empresas participando dessa corrida pelo desenvolvimento de ferramentas de IA, fica a questão: será que, em algum momento, elas acabarão passando por um processo de comoditização, chegando em um estágio onde não haverá mais uma protagonista, cargo hoje ocupado pelo ChatGPT?

“Acredito que muitas soluções como ela surgirão, mas isso não quer dizer que a OpenAI, empresa dona dessa tecnologia, perderá o status de protagonista, porque no mercado digital o pioneirismo importa. Não me refiro aqui a ser, literalmente, o primeiro a apresentar uma solução ao mercado, mas sim a apresentar uma solução robusta e viral. O Facebook não foi a primeira rede social, mas foi a primeira a atingir um efeito de rede mundial”, exemplifica Jonatas Figueiredo, COO do O Novo Mercado.

Para o executivo, inclusive, este pode ter sido um dos motivos que levaram a Microsoft a investir na OpenAI.

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“Existe um termo que a gente usa no meio de negócios, principalmente naqueles que têm efeito de rede, que é o caso das inteligências artificiais, que é o ‘Winner Takes All’. Então, por exemplo, hoje a gente usa o Google porque ele é o mais familiar. No caso das criptomoedas, o Bitcoin é a mais usada porque foi a primeira. Acredito que isso pode acontecer também com a IA, e é por esse motivo que tantas empresas estão correndo atrás para criarem a melhor ferramenta e fazer com que elas se tornem familiares para as pessoas. A IA pode, sim, se tornar uma commodity, mas a que for mais familiar acabará sendo mais usada”, diz Naylor. 

IA e o futuro da internet e do mercado de trabalho

Diante de tantos avanços, é praticamente impossível não se questionar: afinal, a Inteligência Artificial generativa será capaz de roubar nossos empregos ou de destruir indústrias? Muita gente aposta que sim, mas há quem acredite em um “caminho do meio”.

Formado em Engenharia de Controle e Automação, Figueiredo conta que teve contato com a Inteligência Artificial ainda durante a faculdade, longe do “ambiente sensacionalista da mídia”, o que lhe permitiu entender, de fato, as soluções que a tecnologia poderia oferecer.

“É muito divertido fazer relações com filmes de ficção científica, mas de maneira objetiva a IA tem o mesmo poder disruptivo da internet, dos combustíveis fósseis e da máquina a vapor”, compara. 

Segundo ele, indústrias inteiras sofreram disrupção e eventualmente morreram com o surgimento dessas soluções, mas isso nunca é lembrado com pesar, já que muitas outras indústrias surgiram a partir dessas tecnologias, inclusive promovendo ambientes de trabalho mais agradáveis e tarefas menos penosas ao ser humano. 

Além de transformar a maneira como as pessoas trabalham, a Inteligência Artificial também vem acelerando o processo de transformação digital dentro das empresas, ajudando as organizações a aumentarem sua produtividade e a reduzir custos. Naylor conta, por exemplo, que as transcrições das aulas do O Novo Mercado, que antes eram feitas por um transcritor, passaram a ser realizadas por uma ferramenta de IA. Com a mudança, a empresa espera economizar cerca de R$ 80 mil em um ano.

“Ao automatizar alguns processos, os funcionários passam a gastar menos tempo com algumas tarefas e, consequentemente, geram resultados mais rápidos para a empresa”, explica Naylor. Para Figueiredo,  o mercado digital como um todo será impactado pela distribuição de soluções de IA. “O fundamento do mercado digital é se apoiar na natureza das soluções digitais para entregar valor. A Inteligência Artificial é só mais uma dessas soluções”, diz.

Recentemente, inclusive, a escola lançou a sua própria ferramenta de IA para os membros da comunidade, que é baseada na tecnologia do ChatGPT e oferece a possibilidade de criação de conteúdos e de inimigos comuns.

À medida que novas tecnologias ganham espaço, no entanto, é inegável que os profissionais precisarão se requalificar a fim de se manterem relevantes no mercado de trabalho. “Acredito muito que o ser humano é capaz de se adaptar a qualquer ambiente, e nesse cenário sai na frente quem já começar agora mesmo a entender e incorporar essas tecnologias. Quem ignorá-las ou começar a taxá-las como algo perigoso ou ruim vai ficar para trás”, afirma Costa.

Para Figueiredo, a Inteligência Artificial deve acelerar ainda mais o ciclo de automação e substituição de processos humanos por máquinas. “Esta dinâmica já acontece hoje e é muito visível no Brasil: há filas enormes de candidatos para vagas de salário inicial, enquanto há escassez de profissionais qualificados para atender à demanda do mercado. As pessoas precisam entender que sua força de trabalho está ligada, na verdade, à sua inteligência humana. Uma vez que entendemos isso, nos tornamos o recurso mais escasso do mundo”, conclui.

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