Uma das marcas de jeans mais famosas do mundo mostrou que tradição e tecnologia podem caminhar juntas. A Levi’s anunciou que vai começar a testar modelos de roupas gerados por Inteligência Artificial ainda este ano, em uma tentativa de diversificar sua experiência de compra online.
A empresa fechou uma parceria com a Lalaland.ai, um estúdio de moda digital que cria modelos realistas gerados por IA. Após ser alvo de críticas pela decisão, a marca alegou que resolveu adotar o uso de IA em suas campanhas para promover a diversidade.
A maioria dos produtos anunciados atualmente nas plataformas digitais da Levi’s só podem ser visualizadas em um único modelo. A marca diz que a IA vai permitir a criação de modelos com diferentes corpos, idades, tamanhos e tons de pele, promovendo uma maior inclusão e evitando a frustração de clientes que não se sentem representados pelos modelos atuais.
A jornalista Maria Prata, que é especialista em Moda, Inovação e Empreendedorismo, afirma que é importante, sim, que as marcas tragam a ideia de inclusão e diversidade em todas as esferas, mas que o argumento utilizado pela Levi’s não faz sentido. “Justificar o uso de modelos virtuais para trazer diversidade para a experiência de compra de uma marca não me parece muito inteligente, por inúmeros motivos. É como puxar o cobertor para cima e descobrir os pés. Você cria uma imagem mais diversa, mas cria também novos problemas ainda mais excludentes: não empregar modelos reais e propor novos padrões de beleza – que seguem inatingíveis, uma vez que só existem virtualmente – são alguns deles”, diz.
O que podemos esperar?
Uma crítica comumente feita à Inteligência Artificial diz respeito aos riscos de a tecnologia reforçar estereótipos e preconceitos. Para Maria Prata, no entanto, não há como driblar essa realidade, uma vez que o uso da IA deve se tornar ainda mais comum. “Cada vez mais veremos essa mistura do mundo virtual com o real – o chamado phygital – criando tendências na moda. Me parece que o maior problema dessa ideia foi a comunicação, portanto. Porque claro que uma marca pode ter o direito de trabalhar a imagem de uma campanha ou e-commerce da maneira que achar melhor e fizer mais sentido, mas dizer que está fazendo isso pela inclusão foi muito infeliz. A mensagem que passam é a de que não existem, no mercado, modelos ‘fora do padrão’ bons o suficiente para estarem ali, o que não é verdade”, pontua.
Em um comunicado oficial, a Levi’s afirmou que não planeja reduzir o uso de modelos reais ou sessões de fotos ao vivo. Também reconheceu que sua parceria com a Lalaland “não deveria ter sido confundida” com os compromissos de diversidade, equidade e inclusão da empresa.
Para Maria Prata, os modelos virtuais não serão capazes de substituir 100% os humanos. “As suas realidades vão coexistir, e não é para toda marca, nem para todo consumidor, que esse tipo de comunicação funciona”, diz. A IA já está sendo usada, no entanto, para realizar outras tarefas criativas no setor de moda, como a criação de editoriais e até mesmo de coleções inteiras, acendendo um debate importante em torno de questões autorais. “Estou curiosa para ver o que vem por aí, e também receosa com o impacto que isso terá em diversos mercados. Mas é esse o cenário de hoje, certo? É cada vez mais difícil termos certezas absolutas sobre alguma coisa. Muito em breve esta entrevista aqui vai ser sobre algo totalmente diferente, então vamos em frente!”, conclui.