Você baixou algum aplicativo de jogo no seu celular no último ano? Se a sua resposta foi “sim”, saiba que você não está sozinho: os apps de games foram os mais baixados no país ao longo de 2022, com quase seis bilhões de downloads. O dado faz parte de um levantamento feito pela Adjust, uma plataforma global de analytics mobile, com informações da Apptopia.
Os aplicativos de serviços de utilidade pública aparecem em segundo lugar na preferência dos brasileiros, com 932 milhões de downloads, seguidos pelos apps de fintech (736,7 milhões), entretenimento (669,2 milhões) e fotografia (507 milhões).
Segundo o estudo, os downloads de aplicativos em geral sofreram uma pequena queda em 2022, acompanhando as tendências do mercado global. “A hipótese mais provável é a de que a pandemia da Covid-19 pode ter tido um papel importante na explosão do número de downloads de games entre 2020 e 2021, com mais pessoas em casa e à procura de atividades de lazer em nível global. Com um cenário de retorno à rotina ‘normal’, os números se mostraram mais realistas em 2022, justificando a queda na procura por games”, explica o especialista em Produtos Digitais e Inovação Alvaro Gabriele.
Apesar da quantidade expressiva de downloads, no entanto, os apps de jogos ainda precisam enfrentar o desafio da baixa taxa de retenção, que no terceiro trimestre de 2022 despencou de 18% para 1% apenas um mês após a instalação. Segundo Gabriele, não é incomum que os jogos móveis tenham uma queda na retenção ao longo do tempo, mas chegar a uma taxa de 1% em apenas 30 dias indica que a maioria dos jogadores não está encontrando valor suficiente no jogo para continuar jogando após o primeiro mês. “Existem vários fatores que podem afetar a retenção dos jogadores, como a qualidade e diversidade do conteúdo, a facilidade ou dificuldade do gameplay e a capacidade de se conectar e interagir com outros jogadores em tempo real”, aponta.
Segundo o especialista, no entanto, apesar de a retenção de jogadores ser importante, essa não é a única métrica que os desenvolvedores devem considerar ao avaliar o sucesso de um jogo. Taxa de conversão, tempo médio de sessão, LTV e receita também ajudam a entender a saúde geral do game, principalmente no mercado de jogos mobile. “Estratégias para melhorar a retenção poderiam incluir desde oferecer conteúdo novo e interessante constantemente a fornecer incentivos de médio/longo prazo para manter os jogadores jogando, como recompensas mais valiosas e acesso a recursos escassos a partir da realização de missões interconectadas. A personalização da experiência e a geração de conteúdo pelos jogadores também são estratégias que ajudam a melhorar a retenção e estão sendo cada vez mais utilizadas”, diz.
O estudo aponta que as instalações de apps, de maneira geral, devem voltar ao patamar normal este ano: o crescimento em janeiro foi de 11% na comparação com o mesmo período de 2022, indicando uma oportunidade significativa para o desempenho dos aplicativos no Brasil em 2023.
No nicho de games, novas aplicações e técnicas de Inteligência Artificial devem começar a ser utilizadas com força total a partir deste ano, impulsionando a indústria de jogos eletrônicos para outros patamares de sucesso e inovação. “Algumas possibilidades já vêm sendo exploradas, como o comportamento realista de personagens e a personalização da experiência do jogador, o que pode tornar os jogos cada vez mais desafiadores e equilibrados. A IA também pode ser útil na análise de dados e do comportamento dos jogadores, ajudando desenvolvedores a entender melhor o que os gamers estão procurando e a criar jogos mais atraentes e lucrativos”, aposta Gabriele.
Mais sobre os games no Brasil
Para quem duvida do potencial da indústria de games no Brasil, os números não mentem. De acordo com uma pesquisa feita pela Newzoo, o país tem o quinto maior número de gamers do mundo, com 101 milhões de jogadores ativos em 2022.
Com mais pessoas tendo acesso a dispositivos móveis e conexões de internet mais rápidas e estáveis, os jogos mobile se tornaram uma forma popular de entretenimento. Os celulares concentram 60% dos jogadores, enquanto os videogames e computadores são responsáveis por 31% e 30% dos gamers, respectivamente. O estudo mostra também que 43% dos brasileiros que jogam têm o hábito de fazer compras dentro dos games.
Os brasileiros gastaram nada menos que US$ 2,7 bilhões nos games em 2022, colocando o país na 10ª colocação no ranking dos que mais consomem. Segundo a pesquisa, as compras são motivadas principalmente pelo desbloqueio de conteúdo extra e pela personalização de personagens. Para Gabriele, no entanto, o mercado de games ainda precisa enfrentar alguns grandes desafios no país: “o Brasil tem atualmente uma das cargas tributárias mais altas do mundo, o que afeta a competitividade da indústria de jogos. Outro ponto relevante é que o processo de importação de jogos e consoles ainda é burocrático e caro, impactando o preço final para o consumidor. Por fim, a regulamentação de jogos no Brasil ainda é uma questão em constante discussão, o que acaba gerando incertezas para as empresas que atuam no setor”, enumera.
O crescimento do streaming trouxe grandes transformações para o mercado de jogos nos últimos anos, além de boas oportunidades de negócios. “Os streamers mais populares normalmente têm audiências massivas e qualificadas de fãs dedicados, que acompanham suas transmissões e compram os produtos que eles recomendam. Empresas de jogos, desenvolvedores de hardware e marcas de vários setores têm aproveitado essa oportunidade para patrocinar e colaborar com streamers, a fim de expandir sua base de consumidores e aumentar sua visibilidade”, diz Gabriele.
Para quem deseja transformar a paixão pelos games em profissão, o especialista dá a dica: “pare de jogar um pouco e use o tempo livre para buscar experiência prática de desenvolvimento. Isso pode ser obtido por meio de estágios, projetos voluntários, game jams, ou trabalhando em equipes de desenvolvimento independente. Construir um portfólio ajudará a obter as habilidades necessárias para trabalhar na indústria e experimentar desafios reais do dia a dia do desenvolvimento de um game”, conclui.