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Novo capítulo na era dos textões

Twitter aposta em aumento de limite de caracteres e especialista avalia posicionamento

Na última semana, o Twitter inaugurou mais um recurso para contas premium que pagam pelo selo azul na plataforma. Agora, as postagens dos assinantes podem ter até dez mil caracteres e podem ser formatadas com as funções negrito e itálico. 

A movimentação faz parte de um pacote de mudanças para tornar  os conteúdos cada vez mais personalizados e adaptados às ideias dos usuários. Entretanto, não é o primeiro aumento de limite registrado na rede social. 

Em fevereiro, Elon Musk mudou de 280 para 4000 o número de caracteres permitidos para as contas Blue, fazendo com que usuários não precisassem utilizar threads – ou fio, em português – para compartilhar pensamentos e opiniões mais longas. 

As pessoas interessadas nessa função vão precisar investir ao menos 42 reais por mês para ter acesso às novidades, fazendo com que o recurso não seja “acessível” à realidade da maioria. 

O CEO do Twitter, anunciou também que, agora, os usuários poderão oferecer versões pagas de seus conteúdos. Na prática, será possível cobrar para que interessados tenham acesso a textos exclusivos e vídeos longos. 

Além disso, segundo Musk, ao menos nos 12 primeiros meses, a plataforma não ficará com nenhum percentual do valor arrecadado, fazendo com que o produtor do conteúdo tenha que pagar apenas as taxas cobradas pelo Android ou pelo iOS.

Todas as transformações na rede acontecem depois de uma perda significativa de receita de publicidade, desde  sua aquisição pelo dono da Tesla, concluída em outubro de 2022.

Especialista avalia mudanças  

Para o jornalista e professor de comunicação social, Rodrigo Cerqueira, as mudanças estão relacionadas ao discurso de “sustentabilidade” empresarial e viabilidade econômica buscadas por Musk. 

Rodrigo Cerqueira
Rodrigo Cerqueira – professor universitário

“Desde que foi comprado pelo Elon Musk, o Twitter vem tentando implementar algumas ferramentas e algumas funcionalidades para fazer com que a empresa seja economicamente viável, interessante para acionistas e para o próprio Elon. Ele tem esse discurso da sustentabilidade da empresa, desde o início. E eu acho que essa mudança dos dez mil caracteres associada ao selinho, que também é uma ideia de comercialização, é uma tentativa de vender algo que possa ser útil para quem utiliza a plataforma com o objetivo de monetização. A intenção dele, no final das contas, é criar diferenciais que façam com que as pessoas sejam incentivadas a ter uma espécie de versão paga do Twitter. Essa que seria certificada com o selo azul.”

O jornalista avalia que a alteração no limite de caracteres serve para substituir um recurso adaptado por usuários, há bastante tempo, os threads. Entretanto, na tentativa de permitir pensamentos mais longos, a dinâmica da rede pode ser modificada, trazendo prejuízos. 

“Para que que servem os dez mil caracteres? Eles servem para substituir o fio (thread). Então, o que hoje se faz como fio – que se tornou uma função bastante útil e bastante popular no Twitter nos últimos anos, sobretudo em questões políticas – esses dez mil caracteres vêm para substituir. No entanto, eu vejo duas questões importantes. Primeiro, é que embora o fio seja uma função muito popular, o Twitter funciona com base em pequenas opiniões curtas. E uma vez que você admite os dez mil caracteres, você está forçando, de alguma maneira, que as pessoas escrevam mais. E isso tende a mudar um pouco a dinâmica do Twitter. Esse é um primeiro ponto. Talvez a rede não funcione da mesma maneira com textos longos e isso pode ser um tiro no pé nas intenções dele.”

Além disso, o especialista ainda aponta um segundo risco relacionado à pré-existência de um recurso, criado pelo próprio usuário, que contém uma lógica de produção que privilegia a atenção para pensamentos fracionados e influência no engajamento gerado pela produção. 

“A segunda questão é que a tecnologia do fio já existe. Ela já foi incorporada pelos usuários. Ela é bem compreendida. E do ponto de vista de engajamento, o fio é muito melhor do que um texto de dez mil caracteres. Por quê? Pois, no caso do fio, primeiro você constrói uma narrativa passo a passo. O que facilita as pessoas a acompanharem um texto mais longo. Para fazer um fio, por exemplo, de dez tuítes, eles podem ser curtidos, comentados e compartilhados individualmente. Então, em vez de você compartilhar um texto de dez mil caracteres, você vai compartilhando pequenos textos, curtindo pequenos textos. Isso gera um engajamento muito maior (…) ao receber um texto longo, talvez você não leia. Mas quando ele é feito de pequenos textos, em algum momento, aquela narrativa pode te fisgar e você acaba lendo até o final, simplesmente porque você foi provocado pelos primeiros tuítes.”

Por fim, Cerqueira acredita que a mudança não se sustentará no longo prazo, já que a lógica de produção está estabelecida, desde que a rede foi criada e isso implicaria em uma transição de posicionamento, também por parte do usuário. 

“Eu acho que do ponto de vista do uso da plataforma, dez mil caracteres não funcionam. O Twitter é uma plataforma muito antiga que já tem um hábito de produção em consumo estabelecido entre os seus usuários. Também penso ser um tiro no pé do ponto de vista do engajamento. Textos grandes tendem a engajar menos e eu acho que eles vão sentir isso rapidamente. Uma vez que esses textos comecem a circular, se é que vão circular – porque uma vez que você estabelece a possibilidade de existirem textos longos, não significa que os usuários vão fazer isso – pode não ser a maneira como aquele que planeja a plataforma gostaria que fosse.”

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