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“Chutar o balde não é uma opção”

Conheça a trajetória de crescimento da fundadora da Francisca Joias

– Eu brinco que quero “chutar o balde”, mas lembro que se eu chutar, eu tenho que voltar para secar a água e limpar a bagunça(…) 

Ficou curioso para conhecer o processo de desenvolvimento dessa mulher que é referência em resultados consistentes, nos negócios e na vida?

Sabrina Nunes é fundadora do e-commerce Francisca Joias, possui anos de experiência no mercado de consumo B2C e B2B, é palestrante, mãe, grande incentivadora do movimento empreendedor feminino e ganhadora do Prêmio 10 Mulheres Empreendedoras pelo Banco Goldman Sachs.

Mas, se você pensa que essa trajetória foi linear e pouco desafiadora, esta conversa é um convite para que você perceba que nada é impossível para quem está decidido a alcançar. 

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Sabrina, como foi o processo de desenvolvimento do seu negócio? Conte um pouco do seu começo.

Eu comecei a empreender por necessidade, né? As pessoas começam a empreender por dois motivos. Ou por oportunidade – porque elas viram uma grande oportunidade, uma nova oportunidade – ou por necessidade, como é o meu caso. Eu precisava. Então, eu queria muito, por necessidade. 

E eu sempre gostei de vender, de empreender, de estar em movimento. E quando eu comecei, comecei porque, na época, eu morava na Tijuca, tinha conseguido uma bolsa de estudos na Gama Filho, que é com a Universidade na Zona Norte do Rio de Janeiro, e trabalhava na PUC. Então, eu gastava mais de três horas no trânsito, todos os dias. Eu usei esse período do trânsito pra ler e eu lembro que eu li, numa revista, assim: “Mulher vende cinco mil reais numa loja online(…)”. 

Naquela época, meu maior objetivo era trazer minha filha para morar comigo. Então, lendo essa revista, eu enxerguei uma oportunidade diante de tudo que eu tinha né? Que era uma grande necessidade. Lembro de falar: “gente, isso aqui pode ser uma oportunidade, pode ser que isso aqui seja o que vai me salvar”. Eu peguei cinquenta reais, fui ao centro da cidade, comprei bijuterias e coloquei para vender. Foi assim que eu comecei. Com um computador emprestado, num quarto apertado alugado e muita vontade de fazer dar certo. 

E eu fui parar no Rio de Janeiro porque, um ano e meio antes, eu saí de Minas e fui morar no Mato Grosso do Sul. E lá, no Mato Grosso do Sul, eu cheguei até cortar cana. Eu olhava para a usina e via o que os engenheiros ou outras pessoas que ganhavam muito tinham, que eu não tinha. E era claro, eles tinham conhecimento! E eu não tinha conhecimento. E a única maneira que eu tinha de conseguir conhecimento era com o Prouni. Eu fui para o Rio porque ganhei bolsa do PROUNI, para engenharia de produção. 

Assim começou o meu negócio. A Francisca. 

Eu não tive nenhum processo de desenvolvimento planejado com plano de negócios, com estruturas, com nada disso. Até porque, eu não tinha conhecimento. Então, na época que eu comecei, eu comecei só pensando em comprar e vender para ganhar um dinheiro. Eu acho que muita gente começa assim e, ao longo da jornada, você vai descobrindo que pode ser maior que isso e que dá pra ser melhor do que isso.

Quais foram os seus principais motivadores – ou motivos – para persistir no seu negócio?

Meu único motivo era trazer minha filha para morar comigo. Então, eu também não tinha espaço para desistir. Na verdade, eu acho que – hoje em dia – as pessoas desistem muito fácil das coisas. Elas colocam muitos problemas, em tudo, e querem resultados “a nível de TikTok”. E eu brinco que o resultado a nível do TikTok é ter resultado em quinze segundos. E empresa é construção né? Construção de longo prazo. É evolução, é caminhada e jornada.

Quando surgiram as primeiras dificuldades?

Todo empreendedor tem dificuldades e elas não param. Sempre vão surgir novas dificuldades. Mas as minhas principais dificuldades eram relacionadas a conhecimento tecnológico. Eu lembro, por exemplo, que eu não sabia negociar uma plataforma. E a plataforma que eu contratei – para impulsionar meu negócio – eu contratei por visualizações. Eu pagava por visualizações. O que era péssimo para o meu negócio.  Imagina se tem um monte de gente vendo o site, mas não está comprando? Eu não vou ter resultado. Eu queria migrar de plataforma e na hora da migração foi bem desafiador para sair da empresa que eu tinha. O cara tirou meu site do apontamento do Google. O site ficou desaparecido por 18 dias. Foi o período mais difícil.  Dezoito dias sem vender. E tudo isso por falta de conhecimento. E acho que isso acontece, hoje em dia, com muitas coisas, né? A gente toma decisões baseadas no feeling e não necessariamente no conhecimento mesmo. Isso impacta no crescimento e na evolução do negócio.

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Você já pensou em desistir no meio do caminho? Se sim, o que fez para continuar?

Eu brinco que quero “chutar o balde”, mas lembro que se eu chutar, eu tenho que voltar para secar a água e limpar a bagunça. Então, eu não tenho direito de fazer isso. E sim, eu já tive vontade de desistir. Se bobear, até hoje, ainda tenho. Só que quando as coisas vão ficando muito grandiosas, dá muito trabalho desistir e aí você desiste de desistir. 

Acho que todo empreendedor, em algum momento, tem dúvidas, dúvida se está indo para o lugar certo, dúvida se está fazendo a coisa certa, se está tomando a melhor decisão. 

Independentemente do tamanho do seu negócio ou do volume que você lida, sempre haverá um desafio. E dá medo. Mas eu também acredito que não existe ausência de medo. O medo está ali. A diferença é que você diminui o medo com o conhecimento e, cada vez que você diminui o medo, com conhecimento você dá mais um passo para poder alavancar e crescer mais o teu negócio. 

Qual foi o momento da “virada”, onde você percebeu que realmente chegou lá? 

Nossa, eu tenho uma história muito legal sobre isso. Houve uma época que eu pensava assim: “Meu sonho ter um milhão na conta. Quando eu tiver um milhão na conta, eu resolverei meus problemas e serei mais feliz.” E eu fui criada com a minha mãe sonhando com a Mega-Sena, porque ela queria ganhar um milhão para poder resolver os problemas de todo mundo. 

E, quando eu cheguei lá, eu olhei para um lado, olhei para o outro e falei: “tá, eu sou a pessoa com um milhão na conta, mas com os mesmos problemas que eu tinha sem ter um milhão na conta.” E esse foi um sentimento muito louco. É o sentimento de entender que não é só o dinheiro, que têm coisas envolvidas, que é você mudar a vida das pessoas, que é você gerar empregos, que é você impactar a vida de outras pessoas, gerar renda. Que é você poder fazer mais para a sua família. E você vai percebendo que não é mais só o dinheiro. Esse foi um grande ponto de virada de chave pra mim. Entender que a gente até vem pelo dinheiro. Mas numa jornada, você percebe que não é só o dinheiro. 

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Quais são os principais desafios de se trabalhar com o digital?

Eu tenho vários negócios. Tenho E-commerce, tenho um braço educacional forte (…) e acho que o maior desafio de trabalhar no digital é o próprio digital. O digital tá em grande ascensão e mercado em ascensão ele tem carência de profissionais, ele tem – as vezes – poucos dados. Vou pegar um exemplo. Se a gente falar um pouquinho do TikTok, eu não tenho uma base de dados gigantes sobre anúncios ou como fazer tráfego direto no TikTok. A gente vai descobrindo os processos no meio do caminho, enquanto eles ainda estão em construção. 

Outro ponto que eu penso é que, quando a gente fala de digital para o braço educacional, é uma maneira de fazer com que o conhecimento se democratize. Se a gente for olhar o sistema formal de educação, ele segue o mesmo modelo há anos. Então, uma empresa de educação que transforma a vida de outras pessoas através de conhecimento, ela vem exatamente por quebrar paradigmas. E um dos diferenciais é usar o digital. E o que que é tão difícil hoje no digital? É você permanecer no mercado. Porque muitas empresas surgem gigantescas – do dia para a noite – e desaparecem, com a mesma velocidade. E só permanece quem, de fato, está gerando muito valor para o cliente. 

Ainda é um campo de oportunidades trabalhar com e-commerce?

Demais! É igual loja física. Se alguém te perguntar se ainda vale a pena ter uma loja física, você diz que vale. Se você tem tino para loja física, vale – super – a pena abrir uma loja física. Agora, será que você consegue trabalhar bem nesse modelo de negócio? Porque, cada modelo de negócio, requer habilidades. Então, as decisões precisam estar acompanhadas de uma preparação para o modelo que você escolher. 

Um e-commerce que é um processo de compra e venda, requer habilidades. Se você não tem essas habilidades e não buscar desenvolver para poder ter o resultado que você almeja, para ser lucrativo, para ser rentável, para empregar outras pessoas, você terá muitas dificuldades. 

Eu acredito que existem oportunidades gigantescas nesse mercado. 

Se você tivesse que começar do zero, o que faria de diferente e o que repetiria em seu processo?

Eu não penso muito em como eu faria diferente, sabe? Eu penso que hoje existem caminhos mais curtos do que eu trilhei. Hoje tem muita mentoria, tem muito conhecimento disponível. Hoje tem maneiras de encurtar o caminho que, na época que eu comecei, não tinha. Hoje tem mais tecnologias. Então, hoje, talvez eu levasse menos tempo pra dar esse start. Para chegar, por exemplo, a cem pedidos no mês. 

Além de tudo, hoje é mais concorrido. E quando é mais concorrido, você precisa se destacar por outras habilidades. Eu acredito muito que tudo que você vai fazer você precisa de três coisas. Método, ferramenta e mentalidade. Método, que é a estrutura que é validada, principalmente por uma outra pessoa que já deu certo. Você pode copiar e ganhar tempo. 

Ferramentas e conhecimento das ferramentas que fazem com que você tenha mais resultados.

E aí vem o ponto de Mentalidade. O empreendedor precisa ter uma mente blindada. Que empreender é desafio, empreender é solitário e é através da sua mente que você se coloca na posição de evolução constante e se coloca na posição de evoluir mentalmente, não só como empreendedor, mas um gestor. Uma pessoa que consegue conduzir bem outras pessoas e consegue lidar com situações de estresse e desafio, atuando também sob pressão. Porque essa é a vida do empreendedor, né?! Vai ter pressão, vai ter stress, vão ter conquistas maravilhosas.

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Se eu começasse do zero, eu cuidaria da minha mente, cuidaria de estar seguindo uma metodologia validada – para encurtar caminho – e cuidaria de estar com as ferramentas que são potências no momento.

Como você enxerga o marketing digital hoje? 

Eu enxergo como uma grande oportunidade. Eu acho que nem começou ainda tudo que o marketing digital está fazendo. E aí, quando a gente olha para o mercado, vemos uma das referências de todo esse resultado que é o Ícaro, que cria um movimento gigante em torno da alavancagem desse mercado. Que gera muito emprego.

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Outro dia, eu estava contratando o pessoal e usei ali o sistema d’O Novo Mercado. Na hora eu fiquei pensando como é gigante o ecossistema que ele criou! Porque, ele não só forma as pessoas, mas ajuda essas pessoas a se reposicionar no mercado e conseguir trabalho. E isso é lindo, pois faz com que tudo seja de verdade, voltado para o longo prazo e a evolução das pessoas.

O que você faz para equilibrar sua rotina agitada?

No caso, minha amiga, eu sou uma pessoa desequilibrada mesmo. Não tenho vergonha de falar não, viu? Infelizmente, essa parte do equilíbrio nós estamos faltando.

Eu vou fazendo as coisas, sem julgamento mesmo. Eu não me cobro ser uma pessoa equilibrada em nada. Eu me cobro ser a melhor pessoa no momento que eu estou fazendo algo. Então, se eu estou sendo mãe, eu vou ser a melhor mãe do mundo. Se eu estou trabalhando, eu vou ser a melhor voz do mundo. Se eu estou dirigindo, eu vou dirigir o melhor curso do mundo. É tudo que eu posso fazer, da melhor maneira, com os recursos que eu tenho.

Às vezes eu vejo as pessoas tão preocupadas em equilibrar. Mas, é um equilíbrio tão fake, que é só mental. Precisamos ter cuidado com o real sentido da palavra.  Então, se eu penso em equilíbrio, penso em tempo de qualidade com a tarefa que estou me propondo a desempenhar naquele momento. 

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